05 dezembro, 2010

Esquizofrenia

Vivo esperando a sua volta. Olho pela janela a lua que você me deu, naquela noite de verão quando a gente se conheceu. Observo os transeuntes andando apresados sem perceber, olho o sol que você me prometeu quando fomos à praia naquele dia nublado. Não sei mais de você, nunca mais olhei para as gostas de chuva caindo. Quando chove, tranco toda a casa e me escondo em baixo da colcha de retalhos que você costurou sobre nós. Tento apreciar os detalhes nos outros olhares, mas sempre me perco lembrando o teu. Procuro distrações que tornem estes dias mais fáceis, mas é difícil pensar em não pensar em você... Confesso, a loucura tem me visitado diariamente, pra falar a verdade diariamente é pouco, ela veio morar comigo desde que nos perdemos. Ela não é exatamente uma companhia agradável, mas é a única que entende a minha necessidade vital de falar sobre você.  

Ontem enquanto relembrávamos os vinhos e flores daquele dia de inverno, senti na boca o gosto de tudo, como se estivesse ao seu lado naquela noite fria jogando conversa fora, rindo das minhas besteiras que você dizia gostar tanto. Doeu sabe? Porque quando olhei ao redor, até a loucura tinha me abandonado. Acho que mesmo ela enlouqueceu comigo.


30 outubro, 2010

Calor

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- O suor escorre pelo corpo quente. A boca seca, implora por algum liquido que possa saciar-lhe a sede. Naquele momento as roupas molhadas pelo suor excessivo tornavam-se armaduras pesadas, debaixo de um sol de mais de 40 graus até mesmo a pele incomoda. A água do chuveiro que deveria refrescar-lhe um pouco parece se render a elevada temperatura, cai tão quente como se estivesse saíndo de uma chaleira.  Secar-se de nada adianta, em poucos minutos estará molhada de suor novamente. Dormir, comer, andar, sentar tudo se torna extremamente incomodo, até mesmo o enorme ventilador baforeia vento quente. 

A baixa umidade provoca-lhe sensações adversas. O calor que sente neste momento vem de dentro, vem do imenso desejo de saciar-se, de explorar-se, de sentir-se. Incomodada pelo fato de nada esfriar-lhe, joga-se no chão branco da varanda. Observando as crianças brincando na rua, o horizonte que parece desmanchar-se a sua frente, o céu azul sem nuvens. Deitada ali observa tudo em slow motion, a vida passa devagar queimando ao sol como tudo ao seu redor.

24 outubro, 2010

Baú!

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Guardo no baú, lembranças destes anos de vida. Guardo as primeiras palavras, os primeiros dentes, os primeiros passos. Neste baú guardo os primeiros parabéns, os primeiros pedaços de bolo, as primeiras amizades. No mesmo baú se encontram pessoas que não vi mais, a primeira bicicleta, os amores platônicos, as primeiras crises. Guardo também no baú em uma parte submersa, as tristezas e decepções ocorridas nestes anos de vida. Guardo-os juntos de cada conquista, de cada queda e de cada recomeço. Tudo de mim está neste baú.

Vinte e Um anos de vida, de projetos, de sonhos. O primeiro choro, os primeiros medos. As expectativas frustradas, as conquistas suadas. Guardo neste baú os parentes vivos e as lembranças dos que já se foram. As fotografias tiradas após inúmeras tentativas e também as tiradas espontâneamente. Guardo naquele velho e empoeirado baú um pouco de mim, muito dos outros. Pois são estes momentos e pessoas que me faz ser o que sou, são eles que me proporcionam material para guardar dentro e fora do baú.

Texto Isabella Mensant!

10 outubro, 2010

Tempo


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O tempo passa entre as corrediças de madeira, entre o amarelado das fotos, entre as lembranças daqueles momentos bons. O que ficou foi à saudade, o sentimento que por incrível que pareça continua o mesmo, entre lençóis molhados de suor, entre os carinhos que permanecem irresistivelmente os mesmos, com mais intensidade é claro, depois de anos sem se verem. Os olhos que desta vez sussurram as verdades escondidas, as bocas que em uma interminável discussão falam todas as verdades antes transformadas em mentiras, tudo o que tinha ficado para trás, voltou. No mesmo redemoinho de sentimentos dispersos, nos mesmos corpos seduzidos, nas mesmas sensações vividas antes de acabar. E hoje com tudo o que foi dito, será difícil não lembrar. As verdades que sempre sonhara ouvir, todas ali em sua frente e mesmo assim o sentimento não se desfaz, só cresce e se mostra e novamente machuca. Agora não são apenas dois, são quatro, são outros que entraram e dividiram aquela historia antes acabada. Não são mais apenas seus, são de outros, são de ninguém... Mas o que é possível fazer? Sufocar o desejo tão ardente? Arrancar do peito e da memória algo tão grande, algo tão bom? Já sufocaram demais aquela sensação, deixaram-se levar pensando que tinham em suas mãos o controle da situação. Mas não tinham, não tem, não terão. Nunca!

Texto: Isabella Mensant!

01 outubro, 2010

Compact Disc


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Hoje respirei fundo e pus para tocar aquele CD antigo que você fez pra mim, foi difícil. A cada música que tocava eu lembrava de você, de nos dois juntos. As lembranças saltavam de meus olhos, escorriam por minha face e deixavam um gosto salgado na minha boca, misturando-se as lágrimas que também caiam. Na primeira música pensei em desligar, quebrar o CD e tocar a minha vida adiante, sem aquelas lembranças de você. Ainda dói pensar que não demos certo. Por algum motivo eu ainda espero que nossos caminhos se cruzem algum dia e que eu novamente ouça aquele CD junto a ti. Dizem que a esperança é assim mesmo, nunca morre, mas a minha, confesso, está em fase terminal.

A faixa número seis foi como um vaso se estilhaçando ao chão. A dor insuportável que pensei ter ido embora estava lá embaixo se misturando aos cacos. Gostaria de algum dia ouvir este CD e não chorar, nem lembrar, nem sentir... Ouvi-lo como outro qualquer, cantando enquanto faço faxina em casa, sei lá! Mas, sei que este CD nunca será como os outros, ele foi seu, assim como eu fui um dia. Nele, estão nossas músicas, lembranças de um tempo que ficou para trás. Naquele maldito CD, eu consigo te ter novamente, olhar pra você enquanto me beija, sentir o aconchego dos braços que me cercavam, consigo sentir seu perfume, ouvir sua voz. Faço tudo isso com nossa trilha sonora, escolhida a dedo por você. Mas, assim como nós, o CD também chegou ao fim. Retiro-o com cuidado do som, olho-o por um segundo, sua letra está nele, meu nome está nele. Não jogarei fora, não quero que outros ouçam o CD que você fez pra mim. Guardo-o em um lugar calmo e aconchegante, assim como as lembranças de você. Guardo o CD com esperanças de que da próxima vez que ouvi-lo, tudo esteja diferente, principalmente eu!


Texto Isabella Mensant

13 setembro, 2010

Ardência


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Os olhares se cruzaram, era noite de sexta-feira, com o desejo ardente e a lua como um fanático voyer, se entregaram! Ardentes como brasas de uma fogueira recém acesa, os corpos uniam-se naquele momento. A respiração tornara-se densa e descompassada, o prazer exalava a cada toque sensações jamais imaginadas.. O extâse daquele momento tão aguardado, tão desejado tornava tudo mais intenso, palavras sussurradas ao pé do ouvido fazia o corpo delirar ainda mais. O gozo reprimido por tanto tempo, enfim se concretizaria 

[. . .] 





Após tórridos momentos de entrega e satisfação, desatrelaram-se. A lua que desde o começo testemunhava o ato calada, deleitava-se agora com as confidências trocadas. Os carros que passavam na rua compunham a trilha sonora daquele momento. Os lençóis molhados e desfeitos após tanta excitação, agora repousavam sobre as formas voluptuosas da mulher, que cansada e extremamente feliz adormecia nos braços daquele que por enquanto possuía.


texto: Isabella Mensant!

30 agosto, 2010

Vida de Aúrelia!

Nos incontáveis jeitos de se divertir, Aurélia se sobresaia sempre de todas as outras garotas de sua idade. Subia nos galhos de árvores mais altos, jogava bola como nenhum garoto o fazia, odiava suas bonecas perfeitas, de cabelos loiros perfeitos, de peitos duros e empinado, de altura desproporcional às mulheres que via nas ruas. NÃO! Definitivamente não era aquilo que queria no auge dos seus 10 anos de idade. Queria ser livre para conhecer outras culturas, queria fazer planos sem precisar consultar o marido (como sempre o fez sua mãe), aliás não se casaria como todas as outras moças. Pra quê? Questionava ela. - Uma moça tem que se casar, ter filhos. Não há nada mais gratificante que cuidar do marido e da casa !_ respondia-lhe sua mãe.


Aos 15 anos apaixonou-se pela primeira vez. E decidiu que abriria uma exceção.CASARIA, mas só se fosse com Heitor. Este que semana seguinte lhe dizera que gostava de meninos, que não queria nunca casar-se com uma menina feia como Aurélia, que não sabia nem como usar uma saia. DESAPONTOU-se, pobre Aurélia. Jurou que nunca olharia novamente para um rapaz. Assim o fez até que aos 18 anos viu Lucas, -Ah! o Lucas!!! - derretia-se. O pai de Lucas era o mais novo morador da rua, e as meninas já se mostravam prontas para uma guerra rumo aos olhos do herdeiro. Ele parecia não se importar, queria mesmo era saber de meninos. - De novo não! Aborreceu-se Aurélia. - Desculpe mais o que posso fazer se seu irmão é um gato ? - sussurrava.

Ao passar dos anos Aurélia ficava menos interessada em homens. Os que ela gostava, gostava de meninos. Sempre meninos. Ela então começou a questionar-se o que há de errado com as meninas? São todas tão lindas, sempre arrumadas, sorridentes... Começou então a olhar as mulheres com outros olhares. Estava curiosa para ver o que acontecia aos homens para preferir meninos à meninas. E foi neste olhar mais aprofundado que conheceu Lívia. Lívia disse a ela que nunca achou graça em meninos, que eles eram sujos e insuportáveis. - Prefiro meninas - revelou Lívia. e Aurélia que já não mais questionava respondeu-lhe - EU TAMBÈM!!!


Texto Isabella Mensant

17 agosto, 2010

LIBERDADE


- As horas passavam tão lentamente que até a vontade de morrer se disipava. Olhava aquela casa onde vivera todas as alegrias de uma mentira. Cortava-lhe o coração imaginar que nunca mais se veria ali. Criara os cinco filhos naquele minusculo espaço. Sofrera a cada traição de seu amado, pensou infinitas vezes em deixa-lo, mas o que fazer? Os meninos precisavam do pai, que mesmo ausente ainda fazia de sua presença uma imposição calorosa aos filhos. Tentava agora não mais lembrar de nada, pois se o fizesse não mais se libertaria. LIBERDADE. Palavra que até aquele momento não tinha sentido nenhum em sua vida. Sempre estivera presa, desde que era menina, quando morava com o pai. A mãe deixou aquela vida por causa de outro homem, o pai tornara-se amargo e rancoroso. 

- Tu é a cara daquela vagabunda. Se pudesse lhe matava só pra não lembrar daquele traste! - Exclamava dezenas de vezes ao dia.

Mas ao cair da noite, todos os dias desde que sua mãe partiu, seu pai  adentrava  o velho quarto e a acariciava em sua cama, chamando o nome da mãe, lhe tirava a roupa e satisfazia o desejo animal. Batia-lhe na face, descontando sua ira e sua paixão. Quando terminava, xingando-a como a uma prostituta barata que não conclui o serviço, botava-lhe para o alpendre, onde dormia recostada no calor do fogão de lenha. Vivera assim até os 16 anos, quando decidiu ir embora no mundo. Antes  mesmo de chegar a rodoviaria da pequena cidade, conheceu Chico, que dando-lhe a atenção e carinho, coisa que nunca teve em sua vida, conquistou seu amor. Desistiu então de ir embora, ficou com Chico. Na pequenina casa, sua vida continuava, seu sofrimento continuava. Logo na primeira semana, chegando em casa embriagado Chico surrou-lhe até dormir. O que em seu estado não demorou muito, mas doeu. Acostumou-se  então a acreditar que o amor doía. Aos 17  anos teve seu primeiro filho. Aos 17 e dez meses teve o segundo. Aos 20 já era mãe de três meninos e duas meninas [...] Mas o tempo agora seria outro, decidiu ao encontrar Chico com as meninas nuas no quarto.

- Minhas filhas não terão a mesma vida que eu. - Gritava aos prantos pela casa. Chico, nada disse apenas levantou as calças e partiu para o bar.

As 19 horas do dia 07 de Abril. Conseguia finalmente a liberdade. Aos 22 anos, sem nenhum dinheiro e com cinco filhos, PARTIU.


Texto: Isabella Mensant!


08 agosto, 2010

.Amanda



O sino da campainha soava estrondosamente, a impaciência tornou-se visível após o décimo toque. Atrás da porta de madeira descascada os raios de sol invadiam o velho apartamento. As roupas esparramadas denunciavam tudo o que aconteceu na madrugada. A taça de vinho quebrada ao chão, era uma pobre vitima da selvageria do momento. Após inúmeras tentativas, a campainha silenciou. Quem tocava não mais voltou naquela semana.  Os dias passaram então e ninguém se dera conta da ausência de Amanda. Após 2 semanas, a campainha gritou novamente. Desta vez o desespero e a impaciência ecoou no primeiro tintinar, após meia hora a porta se abriu. Os passos apressados pelo assoalho empoeirado, investigava cada pedacinho da casa a procura de alguém. Ao abrir a porta do quarto, a surpresa ...     

Um travesseiro repousava por entre as pernas de Amanda, deitada de lado, completamente nua e despida de qualquer pudor. Sem respiração, sem pulso, sem calor. Encontrava-se em companhia apenas dos travesseiros, de uma caixa de remédios vazia e  um bilhete rabiscado ...


- Minha doce amiga. Queria te dizer tanto, mas não encontro palavras.
Me caso hoje as 20 horas. Não me procure mais...

No verso do bilhete a despedida daquela tórrida relação

- Meu amor, seja feliz! Te dou a certeza que nunca mais me verás.
Te amo tanto que sem você minha vida não faz o mínimo sentido. Não se preocupe, amarei você até o fim. Até o FIM!


Texto:Isabella Mensant!



09 junho, 2010

Meio - Fio


 


- Sentou-se após o fim, recordando o começo. Por que chegara a tal ponto? Porque envolveu-se em pequenas e desmedidas cenas de um amor somítico? Olhava ao seu redor e via a vida de outras pessoas passando pela rua, olhava e não via um sentimento igual ao seu. Empalidecida pelo crepúsculo que chegava e pela falta de esperanças naquela sofrida existência, que lhe doía a alma como quem quebra um osso, chorou. Não um choro que expurgasse todos os indesejáveis sentimentos de dentro de si, mas um choro que a fizesse se lembrar sem dor. Sentimentos bons ou ruins, alegres ou dolorosos enfim, sempre os teria é da natureza humana sentir. Sentada ali, percebia que o tempo poderia até melhorar as coisas, mas apagar acreditava ser demais. Não era do tipo que sentava no meio-fio da rua, chorando. Mas há muito tempo desconhecia-se. O sentimento que aos poucos foi tomando conta de sua razão a deixava fraca e submissa. Com os olhos mergulhados em lágrimas coloridas, levantou-se e decidiu partir, deixando pra trás aquele meio-fio, que calado presenciou o mais intimo de seus momentos.
Texto: Isabella Mensant

06 junho, 2010

Abandono

Foto: Internet

Às 12:30 de uma noite de sábado qualquer, a cidade ecoa sons indecifráveis pelas janelas do pequeno apartamento. Ela que a muito espera aquele que não vem, contenta-se com a misera companhia do computador e com pensamentos de tudo o que poderia estar fazendo neste momento e não está. A espera e a falta de noticias a consome, os minutos se arrastam e ela tem a plena certeza: ELE NÃO VEM.

Agora quase 01:00 da madrugada a certeza a deixa visivelmente abalada, esperar ela odeia, mas não do mesmo jeito que ser rejeitada, abandonada e o pior: SEM UMA EXPLICAÇÃO! Se ele tivesse telefonado e dito que não poderia ou até mesmo que não gostaria de ir. Mas assim sem saber o que ocorreu, se ele pegou no sono ou se morreu, isso a desespera. O vinho que esperava a sua hora, agora serve a um outro propósito, beber ela sabe que não é a solução MAS O QUE FAZER? concentrar-se em algo é completamente insignificante, o telefone celular a persegue, a vontade de ligar e saber o que houve a torna uma das garotas que ela mais odeia: A CHATA que liga, que fica no pé. NÃO! Ligar em uma situação destas é deprimente, INACEITÁVEL. Acalma-se, promete nem ligar pra ele e muito menos se importar com a situação. ISSO ACONTECE, consola-se. Após a ultima taça de vinho, às 02:40 da manhã conforma-se ELE REALMENTE NÃO VEM. A noite não foi o que planejara, mas com menos uma garrafa de vinho e mais um abandono nas costas deita-se e DORME!!!

Texto: Isabella Mensant